Adoramos nossos professores, sabemos que estão desesperados como nós com os alunos que não aceitam a derrota
O texto abaixo é um depoimento de uma aluna do colégio Santa Maria de Curitiba. Ela preferiu ficar anônima, mas fez questão de relatar ao Plural o que viu desde o domingo do segundo turno, com a vitória de Lula nas urnas:
A pressão começou antes da eleição e ficou maior no dia 28 porque as pesquisas diziam que o Lula ganharia. Os alunos a favor do Bolsonaro achavam que as pesquisas eram falsas e diziam “petista tem que morrer”. Os professores não falavam de sua posição.
Na noite do domingo de eleição começaram a formar subgrupos tipo “Marista Bolsonaro” e outros e combinaram ir de preto em luto pelo Brasil.
No dia 31 tinha muita gente de preto e outros de amarelo. Na hora do intervalo, 9h50, todo o povo bolsonarista se reuniu no pátio para rezar o Pai Nosso. Até aí ok, tudo relativamente calmo.
Mas aí começaram a gritar coisas contra o Lula e as feministas e a intimidar os mais novos, do sétimo e oitavo, que falavam da vitória do Lula. Os alunos do médio que apoiaram ou votaram, no meu caso, no Lula, começaram a reagir, fazer o “L”. Uma amiga tinha levado a bandeira do PT e começou a balançar lá do segundo andar.
A gente era o grupo menor e mais conversável. Então os coordenadores foram falar conosco, pedindo pra ficarmos de boa. Aí o intervalo acabou. A aula seguiu em clima tenso. Ficamos assustadas, mas ao mesmo tempo rindo dos maus perdedores porque a democracia foi cumprida.
Ainda nesse dia o coordenador foi de sala em sala lembrando que manifestação é muito legal, mas não poderia ser na escola. A foto do menino nazista não surpreendeu a gente porque ele fala isso a muito tempo.
Tivemos ótimas aulas sobre Segunda Guerra, nazismo e fascismo. Mas a gente vê que muito aluno vem de casa com um comportamento de achar que tem pessoas superiores. Adoramos nossos professores, sabemos que estão desesperados como nós com os alunos que não aceitam a derrota.
Sobre a direção, a gente critica a falta de medidas mais duras para alunos e famílias. O máximo que vimos foi suspensão de um dia. Isso não é nada pra quem defende Hitler, supremacia racial e armamento do povo.
Fonte: Jornal Plural