Região Sul lidera com reajustes em valores iguais ou acima da inflação. Centro-Oeste apresenta piores índices
Boletim “De olho nas negociações”, publicado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE) neste mês, indica tendência de melhora das negociações coletivas por reajustes salariais observada nas últimas datas-bases. De acordo com o levantamento, reajustes acima da inflação ocorreram em 45,7% dos acordos realizados; resultados iguais a taxa inflacionária em 47,8% e abaixo dela em 6,5% dos casos. Os valores seguem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda, segundo o estudo, as categorias que conquistaram resultados acima do índice inflacionário, em novembro, tiveram, em média, ganhos de 1,34% e aquelas com reajustes abaixo do INPC, perdas de 1,15%. Para a data-base dezembro de 2022, o valor do reajuste necessário – equivalente à inflação acumulada dos 12 meses anteriores – é de 5,97%, considerando o INPC. Isto quer dizer que mesmo os segmentos que tiveram recomposição superior à inflação, ainda acumulam déficit de mais de 4%. Poucos reajustes foram parcelados em novembro de 2022, apenas 1,8% do total.
Também segundo a investigação, o escalonamento – reajustes pagos em valores pagos conforme médias salarias ou porte das empresas – esteve presente em 34,4% das negociações realizadas no período. “Nesse momento, cerca de 60% das negociações no ano resultaram em reajustes iguais ou acima da inflação (36% em valores iguais e 23,8% em valores acima) e 40% em reajustes abaixo do INPC. A variação real média dos reajustes, em que pese a melhora nas últimas datas-bases, segue, no entanto, negativa: – 0,78%, em relação ao INPC”, indica o documento.
A pesquisa também traz informações acerca dos setores econômicos e regiões. O percentual de reajustes em valores iguais ou acima da inflação em 2022 (até novembro) é de, aproximadamente, 73% no comércio, 70% na indústria e 50% nos serviços. No recorte regional, os melhores resultados são da região Sul, com 78% dos reajustes em valores iguais ou acima da inflação; e os piores, da região Centro-Oeste, onde apenas 34,1% foram superiores ao INPC.
As convenções coletivas (resultantes das negociações por categoria) seguem com os melhores resultados. Cerca de 68% conquistaram reajustes em valores iguais ou acima da inflação, diante de 56% dos acordos coletivos (instrumentos resultantes das negociações por empresa). Para Luís Ribeiro, Técnico do Sistema de Acompanhamento de Informações Sindicais do DIEESE, destaca que a melhoria no cenário das negociações ocorre, sobretudo, no segundo semestre e é liderada pelo vencimento de data-bases de setores cuja organização política já é mais consolidada no país, a exemplo dos bancários, metalúrgicos e petroleiros.
Ele ressalta também o papel do movimento sindical para estes resultados, visto sem estas entidades, os trabalhadores ficam condicionados a acordos individuais e em relações extremamente hierarquizadas, o que dificulta o diálogo e apresentação de suas reinvindicações.
“São categorias que tem maior poder de fogo nas negociações coletivas. Muitos estudos observam que quanto mais fortes os sindicatos, melhor os benefícios, garantias, direitos dos trabalhadores. É importantíssima a organização sindical. Um país sem organização sindical tende a ter mais desigualdade. Não é simplesmente bater na porta do RH [recursos humanos] e pedir um aumento. Se não há uma mobilização e pressão não tem como conseguir ganhos. É muito difícil pensar em justiça social, democracia sem a participação dos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma.
Ribeiro também lembra a queda do INPC nos últimos meses, voltando a patamares do primeiro semestre de 2021 e a expectativa de aumento real do salário-mínimo a partir de 2023, criando, assim, uma conjuntura mais favorável para a classe trabalhadora.
“A gente vê como positivo o aumento do salário-mínimo, além da inflação, o que tende a estimular que as negociações tenham reajustes com ganhos reais. E a proposição de uma política econômica que tenha maior investimento do estado, acreditamos que os resultados possam continuar melhorando, voltando a números já alcançados como antes do golpe que Dilma [Rousseff] sofreu, quando os sindicatos tinham muito mais poder de negociação”, avalia.
No acumulado do ano até novembro, o valor médio dos pisos salariais nos instrumentos coletivos é de R$ 1.544,35. Na comparação entre os setores, o maior valor médio foi observado nos serviços (R$ 1.571,02); e o menor, no setor rural (R$ 1.467,12). Contudo, as quantias oscilam a depender da localidade: no Nordeste, por exemplo, o rendimento médio é de R$ 1.396,76 enquanto no Sul é de R$ 1.595,68.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.