Ação busca maior reconhecimento para a categoria e destravar negociação de tabela salarial
A luta pela valorização dos agentes operacionais, categoria formada por trabalhadores com nível fundamental que prestam serviços essenciais como limpeza, ganha mais um reforço nesta semana. A ASSUEL (Sindicato dos Técnicos Administrativos da Universidade Estadual de Londrina) lança campanha pelo maior reconhecimento dos profissionais e efetivação de mudanças na tabela salarial do segmento que, atualmente, recebe os salários mais baixos de todo funcionalismo público no Paraná.
De acordo com Marcelo Seabra, presidente da entidade, serão fixados cartazes no campus e dependências do HU (Hospital Universitário) com mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos pelos agentes. Vídeos também serão compartilhados nas redes sociais com declarações dos próprios trabalhadores.
“Nós tivemos um PCCS [Plano de Carreira, Cargos e Salários] ano passado que atendeu o pessoal de nível médio e superior de forma satisfatória, porém os agentes de apoio não tiveram praticamente nada de ganho. Desde então, temos procurado apresentar uma proposta nova, através da alteração da tabela salarial, conversamos com a Casa Civil, existia um compromisso de acontecer uma reunião com a Secretaria de Fazenda, mas ela não ocorreu e até agora o governo não deu uma resposta”, explica Seabra.
Conforme informado pelo Portal Verdade, o FES (Fórum das Entidades Sindicais) tem defendido a criação de uma tabela única para a categoria. Em média, após mais de 30 anos de trabalho, agentes operacionais recebem de aposentadoria R$ 2.800 mensais.
Uma das principais queixas é a falta de isonomia na tabela salarial. Quando comparado aos agentes do quadro de execução, este último formado por funcionários com qualificação em níveis médio e superior, os reajustes obtidos pelos trabalhadores, no último ano, não foram equânimes, ou seja, enquanto alguns receberam 15% de reposição salarial, outros ganharam apenas a correção inflacionária de 5,79%.
“Vamos chamar atenção para a importância dos agentes de apoio na estrutura da universidade, eles estão em diversos setores, ajudando com seu trabalho, dando o suor de cada dia para que a universidade possa manter o trabalho de excelência e nada mais justo que valorizar esses servidores”, complementa.
Thiago Matos, é agente operacional há 12 anos, atualmente, integra a equipe do Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss. Para ele, a campanha é necessária para demonstrar a toda sociedade, o papel fundamental da categoria a fim da manutenção diária das atividades.
“Em diversos setores da universidade, a gente desempenha inúmeros trabalhos, muitos agentes de apoio estão, inclusive, exercendo funções administrativas, porque a UEL não tem um quadro que supre essa demanda de funcionários nesse tipo de serviço. Então, a gente acha que esse tipo de conscientização é fundamental para mostrar para a população londrinense, para a comunidade universitária, o quão importante é a nossa atividade”, diz.
Luta pela data-base permanece
Ainda, de acordo com Seabra, a mobilização pelo pagamento da data-base continua. “Primeiro, é importante salientar que a data-base deveria ter sido acertada em maio, normalmente, esse é o mês que nos reunimos com o governo para definir o índice que é no mínimo a inflação do período anterior. Neste ano, não houve nenhuma negociação, protocolamos um ofício solicitando reuniões com o governo, mas ele não nos chamou e a verdade é que até agora não tivemos nenhum feedback”, observa.
O FES chama atenção para perdas enfrentadas pelas categorias que já alcançam quase 40%, após a divulgação do índice de 2024, que fechou em 3,69%.
“Nós tivemos um PCCS que parcialmente cobriu esta defasagem. É importante dizer que o PCCS não diz respeito diretamente à reposição salarial que é um direito que o trabalhador tem todo ano, recompor as perdas da inflação no mínimo e o governo não tem coberto esta obrigação. No nosso ano passado, o governo fez 5,79%, mas nos anos anteriores não tivemos e com isso temos defasagem que está em 34% mais a inflação deste ano, em torno de 40%. Encaminhamos uma proposta para o governo rever este 34% mais a inflação do ano passado, porem não houve resposta”, adverte.
Segundo Seabra, caso a gestão Ratinho Júnior (PSD) se mantenha intransigente na negociação, a paralisação das atividades não está descartada. “Se o governo permanecer indiferente, entendo que devemos fazer uma greve de advertência, uma paralisação de um dia e se o governo continuar na inércia, é provável que a gente paralise as atividades até que haja uma resposta”, assinala.
“Ele [Ratinho Júnior] fez uma jogada de mestre quando deu o reajuste exorbitante para duas categorias do quadro de funcionários das universidades e para a nossa categoria, que é o agente de apoio, ele quase não deu aumento. Um governo que está aí nos devendo a data-base, de longa data. A gente sofre com essa falta de reajuste da data-base. E agora esse enquadramento que para nós ficou ruim. O pessoal se dedica à universidade com unhas e dentes. Acho que o justo e merecedor seria ter um aumento correspondente às outras duas categorias”, acrescenta Matos.
Em assembleia realizada no último 19 de junho, professores da UEL deliberaram, em votação unânime, pela paralisação das atividades no dia 1º de agosto em prol da data-base.
Nesta terça-feira (9), ocorre, na ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná) audiência pública em defesa da data-base e dos serviços públicos (saiba mais aqui). A atividade integra a Semana de Lutas em Defesa dos Serviços Públicos, organizada pelo FES, que ocorre do dia 8 a 12 julho.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.