O corte de bolsas da pós-graduação escancarou tanto a lógica absurda do teto de gastos e do dilema do rombo eleitoreiro do bolsonarismo, como da forma em que é encarado essa política no Brasil. É importante inverter o sinal dessa discussão e trazer à tona a importância deste gasto como investimento em pesquisa e tecnologia, nesse sentido, como valorização do rendimento dos pesquisadores.
A bolsa é encarada como um auxílio para determinada atividade, no limite, uma transferência de renda dentro da lógica de subsídio. Uma política de estímulo para que o indivíduo alcance determinado patamar de renda e não dependa mais da bolsa. Dessa forma, é um benefício sem contrapartida. No entanto, as bolsas da pós-graduação financiam pesquisas fundamentais para o Brasil nos diversos campos das ciências. Produzem ciência e tecnologia, importantes, por exemplo, na elaboração de vacinas que combatem doenças, etc.
Apesar de o mestrado, doutorado e pós-doutorado ser um período transitório e, de alguma forma complementar da formação, os pesquisadores oferecem uma contrapartida, pois seus estudos têm um resultado útil e prático para o desenvolvimento do país. Esses estudos dão suporte a grupos de pesquisas no país e dado o sucateamento do investimento em ciência e tecnologia em muitas áreas, a inovação se sustenta com projetos de pós-graduação.
As bolsas em vários níveis de ensino estão há anos estancadas, precarizando essa força de trabalho qualificada. Dessa maneira, há um prejuízo na produção de soberania, isto é, em promover um país ‘capaz de pensar o que produz e dirigir sua economia a favor da melhoria de seu povo’. E, esses salários deveriam estar mais condizentes com a qualidade que demanda desses profissionais, que passam pelo tempo de estudos e exercem um trabalho de alta complexidade.
E como não era de se assustar, depois de um rombo financeiro provocado pelo orçamento secreto, em que o governo Bolsonaro torra o dinheiro que tinha dentro dos limites, também inconsequentes, do teto de gastos, a ciência brasileira é prejudicada. Assim, há dois problemas que poderiam ser resolvidos senão houvesse neoliberalismo bolsonarista: um gasto sem sentido prático (para onde foi esse dinheiro do orçamento secreto?) e; um limite abstrato autoimposto que independe das necessidades do povo. Um país com soberania monetária não quebra e os gastos públicos direcionam os recursos produtivos para finalidades sociais.
Assim, além de sucatear ainda mais ciência e tecnologia brasileira, o corte de bolsas revela a lógica de desprezo em relação ao trabalho dos cientistas brasileiros. Pois, os gastos com ‘bolsas’ deveriam ter uma lógica voltada para o entendimento de fortalecer a força de trabalho que promove o desenvolvimento econômico de um país.