Em último boletim, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SESA) nesta terça-feira (23), o Paraná mais 12.206 casos de dengue e nove óbitos em decorrência da doença. No total, são 66.289 diagnósticos confirmados e 51 mortes desde o início do atual período epidemiológico, em julho de 2022.
Em Londrina, os casos confirmados cresceram 247% em um mês, segundo levantamento do Portal Bonde. No dia 20 de abril a cidade tinha 4.370 positivações da doença, enquanto o boletim da última quinta-feira (18), da Secretaria Municipal de Saúde, trazia 15.182 registros e 22 óbitos. O número de notificações também cresceu significativamente, passando de 25.444 para 49.074 em quatro semanas, aumento de 92%.
Gilson Luiz Pereira Filho, técnico de enfermagem e diretor de Políticas Sociais do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Estado do Paraná (SindSaúde-PR) pontua que o cenário epidemiológico da dengue tem superlotado os hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS) na cidade e, consequentemente, sobrecarregado ainda mais os trabalhadores da saúde.
“Após meses de chuvas prolongadas, quando elas cessaram, os criadores de mosquito foram aumentados e isso fez com que os números subissem, prejudicando demais o atendimento. Isso também tem dificultado as condições de trabalho dos servidores em níveis alarmantes”, alerta.
O profissional avalia que faltou planejamento da Secretaria Municipal de Saúde para ofertar mais ações de prevenção e canais de atendimento à população, visto que a dengue é uma doença sazonal, isto é, tem uma tendência maior de acontecer em determinada época do ano, de acordo com as mudanças de estações climáticas.
“É bem possível de se planejar um atendimento primário organizado, setorializado em cada UBS e não foi feito desta forma. As demandas e decisões de aumento do atendimento foram feitas de modo emergencial, a partir do aparecimento abrupto de muitas contaminações e isto atrapalha muito o fluxo de atendimento nas UBS e nos serviços hospitalares”, indica.
Ele comenta que o Hospital Dr. Anísio Figueredo, localizado na zona norte de Londrina, possui 10 eleitos, mas no último mês, tem recebido demanda de 30 leitos. “Pacientes pelos corredores, que passam a noite em cadeiras plásticas, uma situação extremamente delicada e urgente, visto que não foi feito um planejamento de controle de endemias e de atendimento deste alto número de contaminações”, relata.
Filho destaca o papel dos profissionais da enfermagem e demais trabalhadores da saúde não apenas no cuidado dos pacientes, mas também no controle da epidemia, pois eles contribuem para identificação das regiões com maior foco da doença, por exemplo. “É importante ressaltar que o profissional de enfermagem neste momento também é importantíssimo por conta do trabalho que ele faz de notificação e monitoramento além da assistência direta”, finaliza.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.