Cerca de 27% dos eleitores londrinenses não compareceram às urnas no primeiro turno das eleições de 2024, refletindo um desânimo em relação à política e impondo um desafio a democracia na cidade
A alta abstenção nas eleições municipais de 2024 em Londrina, registrada no primeiro turno, revela um cenário preocupante que reflete o desânimo do eleitorado com a política local.
Com mais de 27,77% dos eleitores aptos a votar ausentes, 111.116 mil pessoas deixaram de ir às urnas no último domingo (6) na cidade, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o índice de não comparecimento levanta questionamentos sobre os fatores que afastam os cidadãos de participar do processo eleitoral e as implicações para a representatividade dos candidatos eleitos.
Em cenário mais amplo, 21,71% dos eleitores brasileiros não compareceram às urnas, de acordo com informações do TSE. O alto índice de absenteísmo é menor que na eleição de 2020, realizada durante o auge da pandemia de Covid -19.
Naquele ano, foram 23,15% de ausências, já na eleição de 2016, a taxa foi de 17,58%. Para a presidenta do TSE, a ministra Cármen Lúcia, os padrões de absenteísmo estão bastante altos no país e é preciso reverter esse quadro.
Repetição de propostas e desânimo
Com um terço do eleitorado sem ir às urnas, o Portal Verdade, foi buscar entender o que motivou o eleitorado a deixar a eleição em segundo plano.
Para o primeiro entrevistado, Eduardo Grandolf, 29, estudante de Gestão de Recursos Humanos, o principal fator que pesa na hora de decidir se sai para votar ou não é a repetição de propostas além de velhas promessas que não se concretizam após o pleito. Ele lista esses pontos como os principais motivos para a falta de motivação dos eleitores.
“As propostas são muito superficiais ou as mesmas da velha política. Não vi nada inovador ou que chamasse minha atenção como eleitor. São sempre os mesmos discursos, sem diferencial”, afirma.
Para ele é necessário que políticos apresentem as propostas de uma forma que chame a atenção do eleitorado.
“Acho que se houvesse mais propostas que vendessem melhor os candidatos, e que despertasse um diferencial em cada um se tornaria mais convidativo a saída para as urnas, com isso iria despertar o desejo de voto pelo novo”, enfatiza.
Eduardo destaca que, embora houvesse candidatos novos, as ideias que se repetem sem apresentar soluções significativas para os problemas reais da cidade. A opinião dele reflete um sentimento cada vez maior entre os jovens londrinenses, uma certa estagnação, em que a renovação política se traduz apenas na troca de rostos, mas não de ideias.
Apatia entre os jovens
Outra voz que se soma ao coro da insatisfação é a de Maria Eduarda Favaro, 25 anos, estudante de Logística e que mora em Londrina desde 2019. Ela diz que optou por justificar seu voto. Maria Eduarda relatou que se deslocar até Bela Vista do Paraíso, seu local de votação e cidade natal, não fazia sentido diante do desinteresse pelo processo eleitoral.
Além das dificuldades logísticas, a estudante sinaliza o desânimo em relação à política local.
“A minha cidade natal tem sido governada pelo mesmo grupo político há anos. Não vejo uma mudança real acontecendo, e isso desmotiva, principalmente, quem é jovem, a votar em busca de algo diferente”, explica.
Segundo ela, a continuidade política gera uma sensação de impotência frente a transformações efetivas, com propostas e políticas semelhantes a cada eleição, sem grandes mudanças de rumo. Maria Eduarda diz que transferir o título para votar em Londrina, também a desmotiva por ser uma cidade com viés conservador fortíssimo.
“Sempre tem o período de mudança de títulos pela justiça eleitoral, mas eu acabo esquecendo, ou deixando de lado, porque votar aqui é um sentimento de impotência, pois só um espectro político tem predominância”, desabafa.
O impacto nacional e local
No contexto nacional, as eleições de 2024 registraram uma abstenção de 21,71% no primeiro turno, o que traduz em 33,8 milhões de eleitores. Embora em Londrina tenha sido ainda maior, alcançando 27,77%, o cenário é mais preocupante, pois na eleição de 2020, 90 mil londrinenses não compareceram às urnas.
Em análise no Central das Eleições, Fernando Gabeira, comentarista da GloboNews, afirmou que o desgaste com a política tradicional transformou o processo eleitoral em algo distante e melancólico. Ele apontou que o distanciamento nas campanhas, agora focadas nas redes sociais, enfraqueceu a conexão entre eleitores e candidatos.
Caminhos para reverter a abstenção
Para enfrentar o desinteresse pelo processo eleitoral, os entrevistados apontam que é necessário que os candidatos e partidos desenvolvam estratégias mais eficazes de engajamento, apresentando propostas adaptadas à realidade local e mais chamativas motivando a maior participação.
Eduardo Grandolf sugeriu que as campanhas precisam inovar e ir além de repetir as mesmas propostas de sempre.
“Tem candidatos novos, cara novas porém as propostas são um control c e um control v da velha política aposentada e saturada de sempre, prometendo as mesmas soluções óbvias para a cidade da atual gestão”, pontua.
Para Maria Eduarda, a acessibilidade ao voto, com mais locais de votação ou alternativas como o limite de reeleição a fim de uma renovação maior na representação política ajudaria.
O cientista político Cláudio Couto, da FGV, destacou que a alta abstenção resulta de uma combinação de desinteresse e desilusão com o sistema político, especialmente, entre os jovens. Para ele, a falta de propostas inovadoras e o desgaste dos partidos tradicionais contribuem para o fenômeno.
Para o segundo turno, a expectativa do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE – PR) é de reverter esses números, e que os eleitores possam comparecer aos locais de votação.
É importante ressaltar, que quem não tiver justificado a falta no primeiro turno ainda assim pode votar no segundo turno. De acordo com o TSE, cada etapa da eleição é independente. Dessa forma, não comparecer às urnas na primeira etapa não impede o comparecimento na segunda.
Cenário de segundo turno em Londrina
Tiago Amaral (PSD) e Maria Tereza (PP), disputarão o segundo turno das eleições municipais de 2024 no dia 27 de outubro. Amaral obteve 42,69% dos votos válidos, enquanto Maria Tereza, conquistou 23,64%.
Matéria do estagiário Jader Vinicius Cruz sob supervisão.