Na última quinta-feira (16), a Frente Antirracista de Londrina embarcou em uma jornada de lutas rumo a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O objetivo principal é protocolar documentos relacionados à arte, cultura, educação e direitos humanos de Londrina, com o intuito de combater o racismo e promover ações que visam reconhecer as múltiplas diversidades bem como mecanismos de resistência.
Manifesto Cultural
Um dos requerimentos apresentados é o Manifesto Cultural. No material é destacado a falta de acesso ao lazer e à cultura de rua em Londrina. O arquivo, que será registrado no Ministério da Cultura e na Secretaria Nacional da Juventude, foi elaborado com a colaboração de integrantes da cultura hip-hop e das batalhas de rima, incluindo a participação significativa das mulheres.
“O Manifesto representa uma exigência da Frente Antirracista, considerada importante para a comunidade, pois proporciona à juventude de Londrina acesso ao lazer. Em nossa cidade, todos os espaços destinados a isso são constantemente marginalizados, o que reflete a mentalidade higienista predominante”, explica Natália Lisboa, presidenta da Frente Antirracista de Londrina.
Natália também enfatiza a importância das batalhas de rima como uma forma de protesto e expressão cultural para a juventude londrinense.
“O rap proporciona uma plataforma para que os jovens expressem suas experiências, frustrações e esperanças. O coletivo reconhece a importância do rap e das batalhas de rima como elementos essenciais da cultura de rua, e espera que este Manifesto sensibilize as autoridades sobre a necessidade de apoio e reconhecimento dessas formas de expressão”, pontua.
Direitos humanos: genocídio da juventude e violência policial
A entidade também direciona sua atenção para a questão dos direitos humanos, focando no combate ao genocídio da juventude e à violência policial. Em 2020, Londrina registrou o 12º maior número de mortes por policiais no país, superando muitas capitais, com 57 londrinenses mortos pela polícia. Esse número é maior do que o total de mortes por policiais em todo o estado de Santa Catarina.
Já em 2021, a Defensoria Pública do Paraná, analisou 302 mortes causadas por ações policiais. Em conjunto com o movimento “Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta“, criado por familiares das vítimas, o coletivo busca esclarecer as circunstâncias das mortes e cooperar com a luta por justiça.
“O estudo da Defensoria Pública também aponta que, em mais da metade dos casos, houve adulteração da cena da ocorrência. Embora a PM diga sempre que matou porque a pessoa reagiu armada, os familiares têm fortes indícios de que há execuções”, sinaliza Lisboa.
Os coletivos defendem a necessidade de fortalecer a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos agentes de segurança, visando aumentar a transparência e a responsabilização das forças policiais. A implementação dessa medida tem sido insuficiente, com o governo estadual distribuindo apenas 300 câmeras para um estado com 399 municípios e 18 mil policiais militares.
As organizações, ainda, reivindicam que os policiais sejam submetidos a exames toxicológicos periodicamente, garantindo a integridade e a idoneidade dos agentes responsáveis pela segurança pública.
Segundo Natália Lisboa, a Frente Antirracista conseguiu agendar as reuniões em Brasília após um intenso esforço coletivo e inúmeras tentativas de comunicação com as autoridades. Ao levar as demandas locais a instâncias federais, o grupo também planeja ampliar a visibilidade das questões enfrentadas pela comunidade negra.
Matéria da estagiária Joyce Keli dos Santos sob supervisão.