Estado é o sexto com mais registros de licenças médicas por queixas de saúde mental
Dados divulgados pelo Ministério da Previdência Social, nesta última segunda-feira (10), demonstram um cenário extremamente preocupante: o Brasil enfrenta uma crise de saúde mental associada ao trabalho.
De acordo com o levantamento, em 2024, foram quase meio milhão de afastamentos por ansiedade e depressão no país. O índice é o maior registrado nos últimos dez anos.
Em 2023, foram concedidas 283.471 licenças médicas para tratamento de transtornos psiquiátricos e de ansiedade. Já no ano passado, o índice saltou para 472.328 solicitações, representando um aumento de 68%.
O contingente representa o total de afastamentos, e não de trabalhadores. Isso porque uma pessoa pode tirar mais de uma licença médica no mesmo ano e esse número é contabilizado mais de uma vez.
Ainda, com base no mapeamento, o Paraná é o sexto estado que mais registrou pedidos de afastamento por saúde mental no período. O estado contabilizou aproximadamente 24 mil licenças decorrentes de queixas psicológicas em 2024. Metade das ocorrências foi relacionada à depressão e ansiedade (12 mil).
As taxas colocam o estado apenas atrás do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.
A psicóloga organizacional, Amanda Castilho explica que, majoritariamente, os transtornos mentais são multifatoriais, ou seja, não há apenas um motivo para o surgimento. Contudo, ela sinaliza que face à intensificação do adoecimento, especialistas têm buscado compreender as principais causas.
Segundo ela, entre os fatores estão o luto pós pandemia de Covid-19, que resultou mais de 700 mil mortes em todo o país. Aprofundamento do estresse devido ao isolamento, insegurança financeira com o aumento do custo de vida e da informalidade.
“Uma das preocupações apresentadas é com o aumento nas incertezas em relação a própria subsistência. Com as relações de trabalho cada vez mais fragilizadas, sem direitos garantidos, os indivíduos ficam extremamente vulneráveis e desassistidos. Planejar a vida mesmo a médio e longo prazo é muito difícil, este fator é muito ansiogênico”, diz.
“No capitalismo de alta performance, também há muito estigma entre aqueles funcionários que demonstram algum adoecimento, é como se eles tivessem fracassado. Por isso, quando as pessoas buscam por ajuda, geralmente, o grau de complexidade já é maior”, complementa.
Empresas têm responsabilidade
A partir de maio, empresas de todo o Brasil deverão adotar medidas para promover a saúde mental de seus funcionários. A exigência decorre da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), implementada pelo Ministério do Trabalho e Emprego em agosto de 2024. A nova regra determina que riscos psicossociais, como estresse, assédio e carga mental excessiva, devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores como parte das ações de proteção à saúde dos trabalhadores.
“Estes dados demonstram a importância de revermos as formas como as relações de trabalho estão organizadas. Sob políticas neoliberais que buscam apenas o lucro, alcançado com a exploração irrestrita da força do trabalho, metas abusivas, assédios são normalizados nos ambientes corporativos. Os resultados são o adoecimento, a reafirmação de uma lógica desumanizadora”, reforça.
Confira lista de afastamentos por transtornos mentais em 2024 no Paraná:
Ansiedade – 6.026 casos
Depressão – 5.993 casos
Transtorno bipolar – 3.998 casos
Depressão recorrente – 3.013 casos
Vício em drogas – 1.738 casos
Alcoolismo – 1.082 casos
Esquizofrenia – 941 casos
Vício em cocaína – 798 casos
Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação – 782 casos
Transtornos do humor – 335 casos
A Síndrome de Burnout, conhecida como um distúrbio emocional cujos principais sintomas são exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes não está nessa lista. No ano passado, foram cerca de 4 mil afastamentos por esse motivo em todo o país.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.