Sem receber as verbas rescisórias, vigilantes demitidos protestam com frequência na sede da empresa Centurion
Embaixo de sol quente, dezenas de trabalhadores se aglomeraram durante toda a manhã desta segunda-feira (20) na calçada da rua Alvarenga, na zona oeste de São Paulo, em frente à empresa Centurion Segurança e Vigilância Ltda. Não é a primeira, nem a segunda vez. O protesto é frequente desde o início do ano, quando a empresa parou de pagar as verbas rescisórias que deve aos 384 funcionários demitidos em novembro de 2022.
“Está cada vez pior a situação para a gente, está desesperadora”, afirma a vigilante Vânia Almeida, que trabalhou durante 14 anos para a Centurion. “Somos pais e mães de família que trabalhamos nessa empresa, demos nosso sangue. E agora o que a gente escuta é isso: ‘não temos dinheiro para pagar vocês’. Todas as contas atrasadas, gente. A gente tem filhos, ninguém espera”, indigna-se.
Depois de prestar serviço durante cinco anos para a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) de São Paulo, a Centurion não ganhou a licitação feita no fim de 2022 e teve o contrato encerrado. Os trabalhadores foram mandados embora e, segundo contam ao Brasil de Fato, a empresa alega não ter dinheiro para pagá-los.
Fundada em 1992, a Centurion tem um capital social de R$6 milhões. O quadro societário é composto por Anderson Moreira da Silva e outro CNPJ, também em seu nome: a Centurion Serviços Ltda, que tem, por sua vez, capital social de pouco mais de R$3 milhões. O diretor da empresa é Sergio Toledo.
Dos seus 58 anos de vida, Damião Ribeiro passou 22 trabalhando para a companhia dirigida por Toledo. Das 10 parcelas de verbas rescisórias que deveria receber, chegou apenas uma, em dezembro do ano passado.
“Estamos lutando”, diz Damião. “A gente está vindo aqui quase diariamente”, conta, em frente ao imóvel onde se vê a placa “Grupo CT” atrás do portão fechado. “Semana passada eu vim na segunda e na terça. Eles prometem que vão pagar e não cumprem”, expõe.
Acordo ignorado
Com mediação do Sindicato dos Empregados em Empresas de Vigilância, Segurança e Similares de São Paulo (SEEVISSP), a Centurion assinou, em dezembro de 2022, um acordo de que pagaria as verbas rescisórias em parcelas mensais.
Glaucia Maria dos Santos, depois de trabalhar 12 anos na empresa, deveria receber seis parcelas de R$2300. Até agora, vieram apenas duas. “Parece que a escravidão continua a mesma coisa”, aponta.
“O acordo homologado foi mal feito, da forma deles, a gente não tinha opção e aceitou”, avalia Vânia. Mesmo assim, não é cumprido. O que a empresa tem feito é uma lista dos que protestam na porta e paga apenas para alguns deles.
Foi o que a reportagem testemunhou na manhã desta segunda-feira (20). Depois de se reunir com um grupo de cinco pessoas entre os quase 60 que se manifestavam aos gritos de “queremos receber”, a Centurion se comprometeu a pagar, naquele mesmo dia, as parcelas vencidas de 20 dos ex-funcionários que estavam ali na rua, os que chegaram primeiro. No dia seguinte, de outros 20, até quitar as dívidas com os presentes na manifestação. Dos 330 trabalhadores restantes, nada se falou.
Empresa em silêncio
Até o fechamento desta matéria, nenhum dos 20 primeiros trabalhadores a chegar no ato havia recebido nada. O Brasil de Fato pediu para falar com João Carlos Vieira, gerente de recursos humanos ou com Fernando de Souza Gomes, gerente operacional, ambos os representantes da empresa na negociação. Eles se recusaram a falar com a imprensa.
A SMADS informou que “cumpriu com todos os pagamentos” previstos no contrato com a empresa Centurion, em vigor de novembro de 2017 a novembro de 2022. Durante esse período, segundo o órgão da prefeitura, “a empresa apresentava a comprovação da regularidade trabalhista à SMADS”.
O sindicato disse ter a intenção de resolver a situação de forma administrativa, por ser mais célere que a judicial. Se optarem por recorrer à justiça, informou o SEEVISSP, os trabalhadores terão de fazê-lo de forma individual.
Fonte: Brasil de Fato