Diferentemente dos estudantes da rede estadual, que puderam realizar o exame em Londrina, alunos do sistema federal terão que se deslocar até Curitiba
Estudantes do IFPR (Instituto Federal do Paraná) – campus Londrina procuraram o Portal Verdade para denunciar o que classificam como “desigualdade de acesso à Prova Paraná Mais”.
Desde maio deste ano, a Prova Paraná Mais tornou-se uma via, juntamente com os vestibulares e outras formas de seleção, para que os estudantes possam concorrer às vagas ofertadas pelos cursos de graduação nas sete universidades estaduais.
Criada para avaliar o desempenho dos estudantes e a qualidade da educação, a Prova Paraná é aplicada anualmente pela SEED (Secretaria Estadual de Educação) aos alunos do ensino fundamental e ensino médio da rede estadual.
Ampliando a finalidade da avaliação, a Prova Paraná Mais, instituída pelo Decreto nº 5.835/24, destina-se especificamente aos alunos do 3º ano do ensino médio. De acordo com o marco, as instituições estaduais de ensino superior devem reservar 20% das vagas para estudantes concluintes do ensino médio integralmente na rede pública de ensino, utilizando os resultados do exame como critério de seleção.
Porém, em carta aberta destinada aos paranaenses (acompanhe abaixo), os alunos vinculados ao sistema federal de ensino relatam que não foram contemplados com as mesmas oportunidades dispostas ao corpo discente da rede estadual.
O alunado do IFPR-Londrina critica resolução do Edital nº 127/2024, que estabelece que os estudantes deverão se deslocar até Curitiba para realizar o exame entre os dias 3 e 4 de dezembro, diferentemente dos estudantes da rede estadual que puderam desenvolver a prova no município, entre 12 e 13 de novembro.
Os formandos da rede federal destacam a falta de recursos para arcar com o deslocamento, hospedagem e alimentação para os dois dias de prova. Além disso, evidenciam a aplicabilidade da prova em datas diferentes, o que segundo eles, compromete a isonomia entre os candidatos.
“A desigualdade se expressa através da locomoção, que não será subsidiada pelo governo do estado, que viabilizou a prova, mas deixou os estudantes responsáveis pelos gastos com transporte, alimentação e estadia em Curitiba. Em adição, a discriminação vigora também na aplicação das provas em dias diferentes, o que não nos garante provas igualmente justas”, diz o documento.
Face à exclusão, a Reitoria do IFPR-Londrina irá subsidiar a ida dos estudantes até a capital. A instituição fornecerá uma diária de R$ 720 para cerca de 50 alunos. “Quem foi dar auxílio para gente foi a nossa própria Reitoria, que não tem essa obrigação, mas como foi uma comoção muito grande dentro do campus, eles ajudaram a gente com a verba”, assinala Leonardo Madeira Alves Pereira, estudante do 4º ano do curso técnico em Informática do IFPR-Londrina.
Falta de organização
Os alunos também sinalizam as informações dúbias emitidas pela SEED, dificultando a organização. “Em um primeiro momento, recebemos uma mensagem da SEED de que realizaríamos a prova em Londrina, porém, no dia 20 de novembro, recebemos outra mensagem com o cancelamento da proposta. Dessa forma, não temos mais tempo hábil para buscar financiamento ou apoio por meio de instituições ou recursos próprios”, observa o estudante.
“A prova destina-se a todos os estudantes da rede pública do estado, contudo, os estudantes da rede estadual puderam realizar as provas nas suas respectivas instituições, enquanto nós, estudantes da rede federal, teremos que nos deslocar para Curitiba para a realização da prova, o que desfavorece as oportunidades que deveriam ser iguais para todos nós, estudantes da rede pública”, reforça Leonardo.
Ele também chama atenção para o cerceamento do direito à educação de forma universal. “A decisão de não realizar as provas nas respectivas instituições para os estudantes que não são da rede estadual, prejudica todo o nosso esforço e dedicação ao longo da trajetória escolar e, especialmente, durante o último ano, em que o sonho da entrada na universidade nos motivou a focar neste processo, que, por enquanto, nos tem sido cerceado”, acrescenta.
Os alunos defendem que a situação seja revertida nos próximos anos. “Nós, estudantes do IFPR-Londrina, reivindicamos que a prova seja realizada nas respectivas cidades dos estudantes inscritos, assim como foi para os demais estudantes da rede pública estadual”, advertem.
Veja carta aberta na íntegra:
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.