Cristiano Moreira de Almeida foi morto dia 22 de setembro e familiares duvidam da versão da polícia
A família de Cristiano Moreira de Almeida, conhecido como Barão, vem realizando protestos diariamente em Bom Sucesso (95 km de Londrina), denunciando o que considera ter sido uma execução. Com 28 anos de idade, Barão foi morto pela Polícia Militar no dia 22 de setembro.
O jovem usava tornozeleira eletrônica, pois estava cumprindo o final de uma pena. Segundo o boletim de ocorrência, a PM teria ido à casa dele devido a um mandado de busca e apreensão. Barão teria sido denunciado “por tráfico de drogas, posse de armas de fogo e ameaças”.
A PM alega no B.O. que chegou à casa e solicitou que a porta fosse aberta, mas ninguém respondeu. Diz então que foi preciso arrombar as portas e que foi recebida por um homem com uma arma em punho. “Diante de grave ameaça, foi necessário realizar o uso de armamento letal”, diz o boletim.
Mas a família tem motivos para desconfiar dessa versão. Em foto do cadáver, à qual a Rede Lume teve acesso, há ferimento numa das mãos de Barão e um afundamento do peito. E no quintal, após a retirada do corpo, os familiares encontraram uma foice com sangue.
Veja vídeo feito pelas irmãs:
O boletim de ocorrências diz que foram encontradas duas armas com Barão, um revólver e uma metralhadora. Não diz quantos tiros foram disparados contra ele.
De acordo com o B.O., tudo foi muito rápido. Os policiais chegaram à casa às 6 horas e assim que os tiros foram disparados contra Barão eles teriam chamado o Samu. No documento, a ocorrência teria começado às 6 e se encerrado às 9h30.
Vanessa Moraes, a irmã do jovem, diz que essa informação não bate com o que eles ouviram. “A enfermeira que atendeu meu irmão disse que ligaram às 5 e pouco chamando a ambulância, mas passaram o endereço errado. A equipe só conseguiu chegar na casa lá pelas 6h10”, afirma.
Como é recorrente nos casos de morte pela polícia, os PMs alegam que foi necessário retirar a arma da proximidade da pessoa porque ela ainda apresentava sinais vitais e podia reagir. A prática, que configura adulteração da cena do óbito, é criticada pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público (leia mais).
Assim que foi avisada, a família correu para a casa de Barão. “Minha mãe chegou lá, tinha um monte de viatura e uma ambulância. Não queriam (a polícia) dizer nada para a gente. Vizinhos falaram que fazia horas que eles tinham entrado na casa”, afirma Vanessa. “Insistimos e eles (policiais) disseram que tínhamos de esperar o IML chegar.”
A irmã reclama que os policiais tiraram muita coisa de dentro da casa e não disseram o que era. “Saíram com um saco grande, transparente, e um saco preto. Perguntamos por que eles estavam tirando as coisas e eles não responderam.”
Vanessa também reclama do fato de a PM ter alegado que houve confronto. “Se era confronto então tinha de ter troca de tiros e não há nenhuma marca de bala na parede.”
Outra coisa estranha, na visão da família, foi a enfermeira ter relatado que o irmão dela estava com metade do corpo no colchão e metade no chão. Já, segundo a Polícia Científica, que veio depois, o corpo estava todo no colchão. “Claramente mexeram no corpo”, aponta.
Vanessa diz que o irmão andava com medo de ser morto e que havia sempre alguém com ele na casa, menos naquele dia. Barão teria recebido uma ameaça dois meses antes numa abordagem da PM.
Para ela, o irmão foi executado à queima roupa e teria sido torturado antes de morrer. “O peito dele estava quebrado. Acho que machucaram bastante ele antes de matá-lo.”
A Rede Lume encaminhou uma série de perguntas à Delegacia de Jandaia do Sul, responsável pelo atendimento em Bom Sucesso, mas a resposta foi bastante resumida: “O inquérito foi instaurado e as circunstâncias estão sendo apuradas”.
A reportagem também procurou a assessoria de imprensa da PM do Paraná, mas ainda não obteve retorno.
Fonte: Rede Lume