De 25 de outubro a 3 de novembro, o Festival oferece mais de 50 filmes, debates e oficinas, promovendo o acesso à arte em meio aos desafios culturais da cidade
O 26º Festival Kinoarte de Cinema irá movimentar Londrina de 25 de outubro a 10 de novembro, com uma programação diversificada e totalmente gratuita, reunindo mais de 50 filmes, incluindo ficções, documentários e curtas-metragens.
Além das exibições, o evento contará com debates, sessões infantis do projeto social Kinocidadão e oficinas voltadas ao aprimoramento de profissionais locais, reafirmando o evento como o Festival de cinema mais tradicional do Paraná e um espaço essencial para o audiovisual.
O Festival Kinoarte de Cinema, que teve sua primeira edição em 1999 com o nome de Mostra Londrina de Cinema, surgiu por iniciativa do jornalista Caio Cesaro, que trouxe para a cidade a paixão pelo cinema.
Bruno Gehring, coordenador geral do Festival, está envolvido com o evento desde a sua fundação e compartilha suas lembranças: “Eu estou no Festival há 21 anos, acompanho desde a primeira edição. Lembro que uma amiga tinha feito uma oficina de filmes em Super-8 [ [modelo de uma das primeiras filmadoras portáteis] e fui junto com ela para ver o filme que essa oficina tinha realizado.”
A experiência inicial despertou em Bruno um grande interesse pela Mostra, que logo se transformou em um compromisso. “O bichinho me picou, e eu quis acompanhar todos. Em 2003, eles trouxeram de novo esse pessoal de São Paulo para dar essa oficina de Super 8, e aí eu entrei na equipe de direção”, ele recorda.
Nesse momento, Bruno começou a colaborar mais ativamente, auxiliando na edição da 5ª Mostra Londrina de Cinema. “Dali, a gente fundou a Kinoarte, e desde então, não parei de colaborar”, explica sobre a fundação da ONG ainda em 2003.
A Kinoarte, nome do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina, é uma associação sem fins lucrativos dedicada à produção de filmes e à realização de oficinas de formação audiovisual. Nos últimos anos, a Kinoarte tem se dedicado à realização do Festival de Cinema e das Oficinas Kinoarte. Suas atividades incluem também áreas como música, fotografia e design.
Com mais de 40 filmes produzidos e extenso currículo na oferta de oficinas de formação em audiovisual, várias produções do instituto já receberam prêmios a nível nacional. Só no Festival de Gramado, festival de cinema mais importante do país, o coletivo levou 13 prêmios pela Trilogia do Esquecimento, composta pelos curtas-metragens Satori Uso, Booker Pittman e Haruo Ohara.
O Festival passou a evoluir, deixando para trás sua abordagem inicial centrada na Super 8 e começando a exibir filmes em vídeo, acompanhando a transição do cinema em película para o digital.
O organizador conta o que o mantém no Festival ano após ano: “Sempre fui muito curioso de ver os filmes, ver o que o pessoal tem feito no cinema brasileiro. Sempre fui muito apaixonado pelo cinema brasileiro e pelo formato curta-metragem. Então, é uma coisa que me dá muita alegria quando chega o momento de selecionar os filmes. A gente assiste a 300, 400 curtas-metragens para fazer a seleção das mostras competitivas do Festival. Acho que é isso, interesse e amor”, reflete Gehring.
Entretanto, a realização do Festival não é isenta de desafios, principalmente, porque a realização depende de patrocínios para se consolidar. “A dificuldade de fazer o evento é que todo ano a gente começa do zero. Então, na 26ª edição, quando ela acabar, a gente começa do zero e tem que ir atrás dos apoios, parceiros e patrocínios para a edição do ano que vem”, explica Bruno.
Ele observa que a disponibilidade de apoio varia ano a ano. “Tem ano que a gente tem mais apoios, tem ano que a gente tem menos. Dessa vez, temos bons apoios, e isso vai refletir nessa programação tão grande e nas coisas diferentes que a gente vai conseguir realizar”, comenta.
Gehring destaca a importância do apoio da Lei Paulo Gustavo, que permitiu realizar desejos antigos do Festival, como promover exibições ao ar livre e incorporar shows à programação. “Conseguimos trazer uma banda para fazer uma trilha sonora ao vivo de um filme, por exemplo. Esse tipo de coisa depende muito de recurso, e este ano conseguimos graças à Lei Paulo Gustavo”, afirma o organizador.
Ele também ressalta a programação deste ano, que promete ser a maior da história do Festival: “A gente abre no dia 25 e vai até o dia 10 de novembro. A programação é muito extensa, com exibições dos filmes até o dia 3, na sala do Vila Rica. Outro detalhe é que este ano a programação é totalmente gratuita, então não tem desculpa para não ir”, convida.
A importância de promover cultura em Londrina
Londrina tem enfrentado um intenso sucateamento da cultura, e um dos exemplos mais recentes desse cenário foi o cancelamento do carnaval de rua deste ano, que também tinha como proponente a Kinoarte. Atualmente, o orçamento destinado à cultura na cidade é de apenas 3%, o que limita as iniciativas e eventos.
Além disso, são comuns as ações policiais repressivas em manifestações culturais na cidade. Conforme anunciado pelo Portal Verdade, em agosto de 2023 a Guarda Municipal e a ROTAM (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) abordaram de forma truculenta uma batalha de rima que acontecia na Praça MRV, no bairro Cidade Industrial II. Na ocasião, 500 jovens estavam presentes, bem como famílias e crianças.
Em contrapartida, prefeituras próximas, como a da cidade de Maringá, oferecem um exemplo de democratização cultural para sua população, promovendo uma Virada Cultural gratuita, com apresentações de bandas locais, DJs, dança, teatro, circo, cinema e cultura popular.
É evidente que Londrina, com uma população de aproximadamente 600 mil habitantes, ainda carece de um evento semelhante.
Nesse contexto, o Festival Kinoarte de Cinema se mantém como um importante agente de democratização do acesso à arte. Por meio de iniciativas como o Kinocidadão, o Festival busca romper barreiras e proporcionar experiências significativas para aqueles que, de outra forma, não teriam acesso ao cinema
Kinocidadão
O Kinocidadão, é um projeto social que há dez anos faz parte da programação do Festival Kinoarte. O projeto realiza exibições de filmes infantis para crianças de diferentes ONG’s, escolas públicas e projetos sociais de Londrina, com o objetivo de incentivar a apreciação audiovisual desde a primeira idade.
Cris Resende, coordenadora do projeto, explica: “O projeto oportuniza a vivência e a experiência de crianças no audiovisual. Em média, 95% dessas crianças que participam nunca tiveram a oportunidade de estar dentro de uma sala de cinema”, destaca.
A coordenadora comenta que, além de estimular a vivência da arte cinematográfica, o objetivo do projeto é formar o público do futuro para apreciação do cinema e destaca o apoio da Secretaria Municipal de Educação, parceira da iniciativa.
“Todos os filmes são aprovados antecipadamente pela equipe da Secretaria. Até o momento, já proporcionamos essa experiência maravilhosa para mais de 15 mil crianças de Londrina”, afirma.
As sessões do Kinocidadão são sempre no período da tarde e duram cerca de uma hora. Neste ano, cada sessão vai atender, em média, 350 crianças, totalizando cerca de duas mil crianças ao longo do Festival. As sessões infantis acontecem entre os dias 25, 28, 29, 30 e 31 de outubro e 1 de novembro, no Cine Villa Rica.
Cris explica que as crianças atendidas pelo projeto vem de periferias e escolas municipais, e que, anualmente, a Secretaria Municipal de Educação indica as escolas participantes democratizando o acesso a escolas diferentes para que todos tenham a oportunidade.
“Também temos crianças vindo de projetos sociais, ONGs e instituições, participando junto com as crianças das escolas municipais em cada sessão”, comenta a coordenadora.
O projeto também sai do cinema para realizar seis sessões com acessibilidade. “Anualmente, atendemos algumas instituições, levando o cinema até elas. Nossa equipe vai até o lugar, monta a sala de cinema e proporciona essa experiência no próprio local”, detalha Cris.
Em 2024, algumas instituições atendidas serão o Instituto Roberto Miranda – Escola para cegos em Londrina, o Instituto Londrinense de Educação de Surdos (ILES), Instituto Adama e a Associação de Circo de Londrina.
Ela acrescenta que algumas dessas instituições necessitam de recursos de acessibilidade, como Libras e audiodescrição, garantindo que todos tenham a oportunidade de vivenciar o cinema.
Uma novidade na programação desse ano é a sessão Kinocidadão Adolescente, marcada para terça-feira, 29, às 15h30, no Cine Villa Rica. O filme “O Dia Que Te Conheci”, dirigido por André Novais, será exibido e tem classificação indicativa de 12 anos. Embora a sessão tenha sido planejada especialmente para os jovens do Cense, o Centro de Socioeducação de Londrina, ela está acessível a todos os interessados e a entrada é gratuita.
Este ano, o projeto KinoCidadão atenderá seis escolas municipais de Londrina, uma escola municipal do distrito de Lerroville e sete projetos sociais da região. “Anualmente, atendemos algumas instituições, levando o cinema até elas. Nossa equipe vai até o lugar, monta a sala de cinema e proporciona essa experiência no próprio local”, detalha Cris.
Oficinas
O Festival Kinoarte de Cinema oferece quatro oficinas gratuitas voltadas para aqueles que desejam se aprofundar na produção e realização de cinema, em parceria com a Armada Academy. Com um formato presencial e inscrições limitadas, as oficinas são uma oportunidade valiosa para os participantes aprimorarem suas habilidades em áreas essenciais do audiovisual.
As oficinas terão como temas: “Identidade Visual para Produções Audiovisuais”, “Assistente de Câmera”, “Elétrica e Maquinaria” e “Captação de Som para Cinema”. Os interessados em fazer parte das oficinas, podem se inscrever aqui.
Serviço
Festival Kinoarte de Cinema
Dias: 25 de outubro a 10 de novembro
Acompanhe programação completa no site do evento (disponível aqui).
Matéria pela estagiária Fernanda Soares sob supervisão.