Sindicato chama atenção para projetos que pretendem terceirizar a gestão e limitar a participação da comunidade no processo de composição das equipes
Nesta semana, o prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), começou a anunciar os primeiros nomes que irão compor o secretariado durante seu governo.
A partir de 1º de janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde fica a cargo de Vivian Feijó. Atual diretora superintendente do HU (Hospital Universitário), Vivian é enfermeira formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Também possui especialização em gestão pública, mestrado em saúde pública e doutorado em gerência de serviços de saúde, todos realizados na mesma Universidade.
Em entrevista ao Portal Verdade, Marcelo Seabra, presidente da ASSUEL (Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da UEL) avalia a indicação da nova secretária.
Para a liderança, a escolha reafirma a importância e excelência dos diferentes profissionais que atuam no HU, o que torna a unidade uma referência no país.
Porém, Marcelo ressalva que o aumento das contratações terceirizadas, adotadas por Ratinho Júnior (PSD), tem levado ao sucateamento dos serviços públicos em todo estado, o que também tem afetado o HU, que é o maior hospital público com leitos ativos no Paraná.
“Infelizmente, não é assim que o governo do estado vê, pois quando ele [Ratinho Júnior] contrata profissionais terceirizados ou através de chamamento público, na verdade, ele está comprometendo esse atendimento. E quando eu falo isso, não quero dizer que esses profissionais não sejam qualificados, mas há necessidade de que eles passem por um longo período no hospital, para que possam adquirir outros conhecimentos”, observa.
“A formação em si na enfermagem não é suficiente para um atendimento, por exemplo, na tisiologia, no pronto-socorro, na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] pediátrica. Nós sabemos que é necessário ainda um estágio grande nesses locais para que o profissional se qualifique adequadamente. Com essa rotatividade que está havendo por conta das terceirizações e chamamento público, o que a gente tem observado é uma queda na qualidade do atendimento e uma insatisfação do pessoal, que além de tudo, tem um salário menor do que aqueles que são concursados”, acrescenta Marcelo.
Frente a este cenário, uma das principais reivindicações da ASSUEL é a realização de novos concursos públicos para a renovação dos quadros. O assunto foi pauta, inclusive, de reuniões promovidas pelo Sindicato com a superintendente ao longo deste ano.
“Para que haja uma menor rotatividade na mão de obra, ou seja, que esses profissionais tenham possibilidade de permanecer trabalhando no Hospital”, adverte.
Futuro incerto preocupa
Marcelo destaca que, a partir de agora, o futuro incerto da instituição é bastante preocupante. Isto porque, Ratinho não esconde suas intenções privatistas também em relação aos hospitais universitários.
Um exemplo é o PL (Projeto de Lei) nº 522/22, proposto pelo mandatário do Iguaçu. A medida pretende entregar os hospitais universitários para a iniciativa privada, tirando toda a autonomia das universidades sobre a gestão destas unidades.
“O que vai acontecer agora? Uma vez que ela [Vivian Feijó] irá ocupar a Secretaria Municipal de Saúde, quem irá ocupar a Diretoria de Enfermagem? A Diretoria Clínica? Essa Diretoria foi eleita, foi uma chapa composta por diversas pessoas, e agora quem irá ocupar?”, questiona.
Outra ofensiva, assinala Marcelo, refere-se à mudança na forma como as equipes são compostas, cerceando a participação.
“Nós sabemos que existe um projeto do governo de não permitir mais que haja eleição e seja indicação direta do governador, o que nós somos contrários. Nós achamos que a comunidade tem condições de eleger e deve continuar elegendo essa diretoria, tanto a superintendente que vier a ocupar, quanto os demais cargos. Essa é uma indagação que nós temos”, complementa.
Outro receio diz respeito a administração exercida pela FUNEAS (Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Paraná). Hoje, a entidade realiza a gestão de 12 hospitais estaduais no Paraná, incluindo, os Hospitais da Zona Norte e da Zona Sul em Londrina.
A FUNEAS é alvo de constantes críticas de profissionais da saúde pela crescente precarização das condições de trabalho e consequente queda na qualidade do atendimento prestado à população. Em março último, a organização de direito privado teve seus critérios de contratação questionados pelo Conselho Estadual de Saúde, o que levou à suspensão da análise das contas da Fundação.
A FUNEAS não explicou números discrepantes de funcionários em três unidades, situadas em Telêmaco Borba, Ivaiporã e Guarapuava que, juntas, receberam cerca de R$ 4,7 milhões do governo do estado no ano passado.
“A FUNEAS, que já aventou-se a possibilidade de vir a administrar o Hospital, o que nós somos contrários. Entendemos que vai causar uma rotatividade maior na mão de obra e, consequentemente, uma queda na qualidade do atendimento da população. Por isso, nós entendemos que o concurso público é a saída”, conclui Marcelo.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.