Evento questiona limites da Independência face a desigualdades
Nesta quinta-feira, 7 de setembro, ocorre a 29ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas em diversas cidades do país. Padre Dirceu Fumagalli, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na zona Sul de Londrina, explica que o evento, surge como uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1995, com a finalidade de trazer outra versão sobre a história da Independência.
Promovido por pastorais sociais, comunidades eclesiais de base, igrejas, organizações não governamentais, sindicatos, a atividade procura chamar atenção para segmentos excluídos da população, trazendo suas reivindicações para a agenda pública.
“É uma forma de contrapor a narrativa oficial da comemoração de 7 de setembro, de um país que mesmo com várias medidas instituídas ainda não é independente, dar vez e voz aqueles e aquelas que até hoje não foram ouvidos e ficam à margem do processo de construção da nação. É um momento de nós explicitarmos os gritos e angústias, expectativas daqueles que a sociedade brasileira teimosamente ainda quer manter na invisibilidade”, pontua.
Ainda, de acordo com a liderança, o tema “Vida em primeiro lugar” tem sido mantido ao longo das edições. Porém, em cada ano é escolhido um lema inspirado na conjuntura sociopolítica daquele momento específico. Em 2023, o mote é “Você tem fome e sede de quê?”.
“Sempre a procura de pautar as necessidades daqueles e daquelas que ainda são relegados pela sociedade e estado brasileiro. Para mantermos aquecidas as organizações no comprometimento com estas populações, dialogando também, de certa forma, com as instituições”, indica.
Fumagalli destaca que além de espaço de mobilização, o Grito dos Excluídos e Excluídas é também um ambiente de formação, pois possibilita a discussão de diversos assuntos como justiça social, democracia, defesa dos territórios e comunidades originárias, acesso à políticas públicas e mundo do trabalho.
Em Londrina, a concentração será no antigo Coreto do Calçadão, a partir das 8h, com café da manhã. O grupo permanece no local para realização de oficinas e debates. Às 10h, os participantes saem em direção à avenida Leste-Oeste para integrar o desfile de 7 de setembro.
“Teremos momento de acolhida, contextualização da temática, também o regaste da memória dos lemas dos anos anteriores, uma reflexão sobre o mote deste ano ‘Você tem fome e sede de quê?” e oficinas, onde os grupos de indígenas, negros, jovens, pessoas que estão nas ocupações urbanas, na luta pela reforma agrária, pelo fim da violência vão se reunir e colocar nos os cartazes esta resposta “Você tem fome e sede de quê?”, acrescenta.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.