Encontros têm ocorrido em diferentes cidades do estado para informar população sobre prejuízos da privatização
Neste sábado (17), a partir das 8h30, ocorre na Câmara Municipal de Londrina, audiência pública em defesa da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Desde o final do ano passado, o governador Ratinho Júnior (PSD) tenta vender a organização, que hoje é a maior empresa pública no estado.
De maneira autoritária e aligeirada, em novembro de 2022, o projeto de lei nº 493/2022, responsável por transformar a estatal em empresa de capital diverso, possibilitando, assim, maior participação e rentabilidade para a iniciativa privada, foi aprovado com ampla maioria pela Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), recebendo apenas 13 votos contrários.
Na tentativa de frear o processo de privatização em curso, a Frente Parlamentar das Estatais e Empresas Públicas da ALEP, cujo presidente é o deputado estadual e membro da bancada de oposição, Arilson Chiorato (PT), tem realizado encontros para informar a população sobre as consequências da ofensiva contra a Companhia que é um bem de todos os paranaenses.
“O objetivo é envolver toda a população na defesa da Copel, o maior patrimônio do Paraná não pode ser vendido sem que a população, no mínimo, debata e lute por ele, algo que não está acontecendo até o momento”, alerta a vereadora Lenir de Assis (PT).
A parlamentar destaca que os reflexos da venda da estatal poderão ser percebidos no aumento da tarifa de energia, o que irá afetar, principalmente, as camadas mais empobrecidas da sociedade. Além disso, em referência a privatização da Eletrobras, aprovada por Jair Bolsonaro (PL) em 2021, ela pontua que o processo enfraquece a soberania popular.
“Caso a venda da Copel ocorra, as consequências serão para todos os paranaenses, ou seja, energia mais cara, precarização dos serviços públicos. Tivemos como exemplo, no governo federal anterior, a desestatização da Eletrobras, a maior empresa de energia do Brasil e da América Latina. Agora, o governo Lula está tentando recuperá-la por uma questão de segurança nacional”, adverte.
Assis acrescenta que a disponibilização da Copel para iniciativa privada diverge das políticas adotadas por outros países que buscam cada vez mais fortalecer a participação estatal no setor eletricitário. “Nós estamos na contramão da Alemanha, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, por exemplo, que empresas de energia foram estatizadas. Segundo os governos desses países, ampliou a acessibilidade dos serviços, principalmente, para as classes mais pobres, reduziu tarifas e aumentou a participação social nas decisões da empresa”, indica.
Para a vereadora, os mais afetados pela medida têm ficado à margem do debate. “A Copel foi construída com recursos públicos, com dinheiro do povo paranaense, é algo nosso. Temos que fazer com que todas as entidades, sociedade civil organizada, sindicatos, movimentos sociais participem deste debate, se informem e lutem para que a venda não aconteça. Da forma como o processo está sendo encaminhado, os mais interessados estão ficando fora da discussão”, observa.
O evento será coordenado pela Frente Parlamentar das Estatais e Empresas Públicas da ALEP. O presidente do Sindicato dos Eletricitários de Londrina e Região (Sindel), Sandro Ruhnke, também irá compor a mesa. A reunião é aberta a todos os londrinenses e moradores da região. “Estamos convidando outros municípios, fazendo a articulação para que de fato, a população tome ciência deste processo de venda da Copel e que isso representa uma violação de nossos direitos, mais um serviço que podemos perder”, finaliza Assis.
Londrina é a terceira cidade do Paraná onde a Frente Parlamentar de Estatais e Empresas Públicas realiza a audiência pública. Francisco Beltrão e Cascavel também já sediaram os encontros. Os próximos estão previstos para acontecer em Cianorte (24/06) e Guarapuava (01/07).
Apoio do governo federal
Nesta quarta-feira (14), parlamentares paranaenses participaram de uma reunião com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para pedir apoio contra a privatização da Copel. Além dos deputados federais Gleisi Hoffmann, Tadeu Veneri, Elton Welter e Carol Dartora, estiveram no encontro os deputados estaduais Arilson Chiorato, Requião Filho e Renato Freitas.
Entre os pontos discutidos com o ministro, estão os erros e irregularidades praticados por lideranças da Copel junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como a compra de quase R$ 1 milhão em ações pelo diretor financeiro e provável dívida de R$ 3,2 bilhões, que foi denunciada, nesta quarta-feira, pela imprensa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.