Evento contou com autoridades da cidade e representantes sindicais de todo estado. Novos diretores classificam que o momento é de reconquistar direitos perdidos nos últimos quatros anos e cobrar mais conquistas para a categoria
No último dia 20 de abril, a nova diretoria da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Paraná (FETIM) tomou posse. O evento ocorreu em Londrina, na sede do Sindicato da categoria, localizado na área central. Valdir de Souza, 1º vice-presidente empossado e liderança dos trabalhadores metalúrgicos na cidade, conta que pela primeira vez o município recepciona a cerimônia. Para ele, Londrina foi escolhida pois tem desenvolvido um trabalho importante de mobilização e formação junto aos trabalhadores metalúrgicos.
“O Sindicato do Metalúrgicos de Londrina se sente muito privilegiado por receber uma posse desta magnitude, na qual participaram sindicatos filiados à Federação, por exemplo, Maringá, Cascavel, Pato Branco, grandes dirigentes sindicais estiveram aqui. Acho que a escolha foi bem sensata pelo trabalho que realizamos frente a categoria metalúrgica”, afirma.
O mesmo entendimento é compartilhado pelo novo presidente da Federação, Sérgio Butka. “A posse da Federação tem ocorrido em Londrina porque a cidade tem sido uma referência da organização sindical do Paraná. Depois de Curitiba, é o segundo polo mais articulado. As lideranças que nós temos em Londrina merece este evento”, avalia.
A Federação dos Metalúrgicos do Paraná congrega os Sindicatos de Metalúrgicos de Curitiba, Paranaguá, Irati, Guarapuava, Pato Branco, Cascavel, Maringá, Londrina e o Sindicato dos Trabalhadores de Reparação de Veículos (Metalrepa). A posse também contou com a presença de autoridades de Londrina como o prefeito Marcelo Belinati (PP) e a vereadora Lenir de Assis (PT).
Pandemia e classe trabalhadora
A crise sanitária mundial provocada pela Covid-19 afetou imensamente o mercado de trabalho. Com a paralisação de atividades econômicas não essenciais, devido a necessidade de isolamento social, e a falta de políticas públicas para apoiar o setor, muitas empresas fecharam as portas ou recorreram à demissão para permanecerem ativas. Sérgio Butka salienta a importância do movimento sindical nas negociações e manutenção dos empregos neste período. De acordo com ele, com base na atuação da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Paraná, foram preservados pelo menos 2 mil postos apenas na capital, Curitiba.
“Nós enfrentamos a pandemia como a maioria dos trabalhadores enfrentaram. Primeiro, não acreditávamos que ela teria a amplitude que teve, mas após um, dois meses, tomamos iniciativas. A Federação começou a negociar com as empresas, junto aos sindicatos, o afastamento dos trabalhadores, criando a quarentena, muito importante naquele momento. Mas não deixamos passar em branco, o alinhamento político sindical, isso é muito importante. A gente viu que durante a pandemia, alguns sindicatos ficaram na inércia. O do Metalúrgicos do Paraná, especialmente, o de Curitiba tomou iniciativa. As empresas que demitiram, nós amparamos os trabalhadores, buscamos mobilizar e fazer com que a sociedade organizada pudesse se rebelar contra as demissões”, conta.
Para o novo presidente, o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba tornou-se uma referência para a organização dos trabalhadores em todo o país. Ainda, segundo ele, a Federação desempenhou papel preponderante, apoiando os sindicatos durante a pandemia. Porém, reforça que a mediação ocorre somente com as entidades que efetivamente defendem os interesses dos trabalhadores.
“Nós temos uma realidade diferente de ação sindical, negociamos empresa por empresa, não com sindicato patronal, porque não acreditamos mais neste tipo de diálogo. Esta ideia de negociar capital com trabalho, não dá certo. O sindicato patronal não pensa como nós pensamos. Nós entendemos que devemos negociar dentro das empresas. Já em 1990, nós começamos esta atividade”, diz.
Próximas lutas
O mandato compreende o período de 2023 a 2029. Para Valdir de Souza, os anos que seguem serão de “trabalho árduo” para reaver conquistas da classe trabalhadora desmanteladas durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), nos quais medidas como a Reforma Trabalhista e Carteira Verde Amarela foram aprovadas. Com a promessa de aumentar as contratações, tais iniciativas dificultaram ainda mais o acesso de trabalhadores a direitos, impulsionaram a informalidade (no final de 2022, quatro em cada dez trabalhadores estavam desprotegidos, segundo dados do DIEESE), achatamento dos salários e, portanto, deixaram os trabalhadores ainda mais vulneráveis.
“Enquanto diretor empossado, eu acho que a gente vai ter bastante trabalho em retomar os direitos dos trabalhadores, não só dos metalúrgicos de Londrina, mas de todo o Paraná, também de todos os trabalhadores em geral, que a gente pretende se unir para que a gente retome as negociações coletivas, melhores condições de trabalho falando da saúde do trabalhador também. Nós tivemos nos governos passados, muitos prejuízos para os trabalhadores”, analisa.
Novas perspectivas para movimento sindical
Os novos diretores contam que as expectativas face à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são otimistas. “Acho que teremos mais espaço e poderemos brigar por melhores condições de trabalho e recuperar, principalmente, as perdas salariais dos trabalhadores metalúrgicos”, pontua Valdir de Souza.
“O movimento sindical no Brasil ainda baseado na época de Getúlio Vargas e tem que mudar o pensamento. Este modelo não funciona mais, temos que ir às bases, reorganizar os trabalhadores, formar grandes sindicatos e não pequenos. Enquanto não tivermos grandes sindicatos, eles não vão sobreviver, seja quem for. Agora com este governo Lula, esperamos construir um novo modelo para que os trabalhadores respeitem suas representações. Para que possamos ter mais representatividade e dignidade e menos perdas de direitos como tivemos nos últimos quatro anos”, sugere Sérgio Butka.
A ex-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e recentemente nomeada nova superintendente regional do Ministério do Trabalho no Paraná, Regina Cruz, também participou da posse. Igualmente para a sindicalista, compreender a situação do trabalhador brasileiro hoje requer olhar um pouco para trás, voltando para 2016.
“Foi feito um golpe contra a presidenta Dilma e com ele a reforma trabalhista, a “Carteira Verde Amarela”, que não serviu para nada, só retirou direitos e a Reforma da Previdência. E no meio de todo este desgoverno, ainda tivemos uma pandemia mundial. Aqui, no estado do Paraná, com o lockdown, muitos trabalhadores ficaram sem emprego. Foi uma luta do movimento sindical para que eles tivessem pelo menos um auxílio. Agora, estamos retomando o governo federal, o Ministério do Trabalho, extinto no governo Bolsonaro. É importante deixar claro isso, era uma pasta da economia, eles queriam acabar com este Ministério que defende os trabalhadores. Nestes primeiros 100 dias, o governo Lula fez muito mais do que Bolsonaro em quatro anos”, assinala.
De acordo com ela, a principal luta, sob esta nova gestão, é garantir a geração de mais vagas de emprego aliada à valorização do trabalhador e, contribuindo, assim, para a redução das desigualdades sociais.
“Retomada de empregos, no setor do comercio e serviços para que a gente consiga fazer com que melhore as condições de vida dos trabalhadores. Reajuste do salário-mínimo, o que também ajuda os aposentados. Se vender mais carros e máquinas do agro, o setor metalúrgico vai bem. Crescendo o Minha Casa, Minha Vida, a construção civil vai bem. Dá um fôlego para a classe trabalhadora. Queremos que todas as pessoas almocem, tomem café e jantem. É este o projeto. Não estamos aqui para apoiar grandes empresários, eles existem e é necessário, mas a gente quer que dividam o que ganham com os trabalhadores. O trabalhador também precisa ser bem remunerado”, acrescenta.
Neste domingo (30), o governo Lula anunciou novo valor para o salário-mínimo. A partir deste 1º de maio, Dia do Trabalhador, a remuneração passa a ser de R$ 1.320. O aumento beneficia aproximadamente 40% dos trabalhadores do país. O mandatário também anunciou a volta de uma política de valorização do salário-mínimo, com reposições acima da inflação. O ganho médio dos trabalhadores não possuía crescimento real desde 2019. A articulação das centrais sindicais junto ao Palácio do Planalto foi fundamental para as novas conquistas.
Voltar para as bases
Entretanto, Butka também faz uma leitura crítica do movimento sindical nos últimos anos. Para ele, o fato de trabalhadores apoiarem medidas que lesam os seus próprios direitos é responsabilidade dos sindicatos que não devem ceder seu lugar para as forças reacionárias.
“O movimento sindical ficou acuado com a eleição do Bolsonaro, governo com pensamento totalmente diferente, batendo nos sindicatos, retirando direitos, mudando a previdência. E os trabalhadores e a sociedade ficaram na inércia, inclusive, alguns trabalhadores que perderam o direito de se aposentar, defenderam este governo. Isto é culpa do movimento sindical, não ocupar o seu espaço. Nós ficamos muito na defensiva e não ocupamos espaço. É preciso ocupar”, assinala.
Ainda, o presidente recém-empossado, compara a situação do movimento sindical a outros grupos que têm demarcado posição, adentrando, inclusive, a política institucional. “O setor do agro hoje cresceu muito no Congresso porque ocupa espaço. Indústria, Comércio, todas as tendências econômicas ocupam espaço. Os trabalhadores acham que vão eleger um presidente e resolver o problema deles, e não funciona assim. Este é o primeiro passo, o segundo é elegermos mais representantes para que possamos ter mais poder de voto e veto no Congresso, Senado, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais”, indica.
Regina Cruz também reforça a importância histórica das forças sindicais na defesa da classe trabalhadora, dos serviços públicos e, consequentemente, da soberania nacional e melhores condições de vida para toda população. “A luta do movimento sindical antes da CLT, [Consolidação das Leis dos Trabalhos], as greves de 1914, a importância dos sindicatos. Tanto que durante a ditadura, eles foram extintos. Os sindicatos são fundamentais no país, são eles que garantem os direitos do povo brasileiro. Os verdadeiros brasileiros são o pessoal da esquerda que defendem serviços públicos, Petrobras e Eletrobras fortes, Copel [Companhia Paranaense de Energia] do povo, aqui do Paraná”, finaliza.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.