Em ano de Prova Brasil, que implica no Ideb, Seed intensifica ações que reduzem o aprendizado a resultados em provas de larga escala
Neste dia 2 de maio, a rede estadual fará seu dia de estudo e planejamento. As ações previstas pela Seed envolvem quatro temáticas: o clima escolar; recomposição de aprendizagem, observação de sala de aula e reelaboração do plano de ação escolar.
Cabe destacar que, neste ano, será aplicada a prova Brasil para os 5° e 9° anos do Ensino Fundamental e 3° ano do Ensino Médio. As provas compõem o SAEB e implicarão no IDEB. Não por menos a Seed insiste na ênfase ao SAEB.
Nesse sentido, os temas recomposição da aprendizagem, observação em sala de aula e reelaboração do plano de ação deverão atender a este objetivo do governo. Vejamos como estes temas se articulam para atender a proposta da Seed:
1) Recomposição da Aprendizagem. O termo é recente e tem sido usado como uma ferramenta para “acelerar o processo de aprendizagem”, isso por conta das defasagens que ocorreram durante a pandemia. Estudos indicam que o período pandêmico com as aulas remotas produziram níveis de aprendizagem muito aquém do esperado. A ideia de processo que envolva a recomposição de aprendizagem é interessante, e tem sido cobrada pelo conjunto dos(as) professores(as).
Diferentemente da recuperação, o processo envolve um conjunto de estratégias que vão muito além de adequar o(a) estudante ao Saeb. Avaliações diagnósticas constantes – não reduzidas a provas de larga escala -, práticas pedagógicas adequadas, formação constante dos(as) professores(as), organização do tempo e dos espaços escolares e materiais didáticos que dialoguem com as especificidades de aprendizagem de cada estudante.
Infelizmente, é um grande equívoco pedagógico reduzir este conceito a atingir notas no Saeb. A atual dinâmica imposta pela Seed gira em torno deste objetivo. Vejamos: Haverá material didático para estudantes com o selo das plataformas Acerta e Aprova Brasil das editoras Ática e Moderna, respectivamente. Ambas são especialistas na venda de pacotes prontos para a educação. Além do material, estão previstas web-conferências de orientações para o trabalho pedagógico a cada 15 dias, com início no dia 4 e 5 de maio com orientações para a Língua Portuguesa e Matemática. Estão previstos simulados que atendem as métricas (descritores e distratores utilizados nas avaliações de larga escala), além de atividades na plataforma Quizizz (Desafio Paraná) e RCO+. Faltou ainda dizer que, nas semanas que antecedem as provas do Saeb, haverá intensivo de Língua Portuguesa e Matemática.
Temos insistido na crítica a essa prática pedagógica autoritária e nada autônoma, em que professores(as) deixam de ser sujeitos mediadores do conhecimento, sua função pedagógica precípua, para se tornarem meros executores de manuais e plataformas. Além disso, a orientação subjacente à proposta tem sido de controlar o fluxo escolar e treinar estudantes para as provas do Saeb, tudo isso com a função de incidir sobre IDEB
2) Observação em sala de aula. Madalena Freire, que, pasmem, é usada como referência bibliográfica pela Seed quando se trata da temática de observação de sala de aula, em um pequeno e valoroso texto (Educando o olhar da observação – Aprendizagem do olhar) fala da importância da observação como elemento que auxilia a prática pedagógica, que vai desde o processo de observar os(as) estudantes às trocas com os demais professores(as).
A preocupação dela não está em punir ou obrigar pedagogos(as) e diretores(as) a observar as salas. Cabe lembrar que esta obrigação está explícita em um decreto governamental. Ao contrário do governo, a prática de observação defendida pela autora está na ação reflexiva, de educar o olhar para as diversas e diferentes realidades de sala de aula. É uma ação sensível e pensante que rompe com as formas autoritárias de se impor modos e modelos educacionais como os utilizados hoje pela Secretaria em seu programa de automação de educadores(as) e estudantes.
Este ato propõe, antes de tudo, uma reflexão biunívoca que auxilia professor(a) e observador(a) em sua práxis. Como boa discípula freiriana, ela própria, sendo filha de Paulo Freire, entende que este mecanismo se constrói coletivamente e deve ser prática pensada, ou como a autora diz, precisa ser um encontro marcado.
Toda a política pedagógica da Seed contradiz a prática desenvolvida e desejada por Madalena Freire e muito mais por Paulo Freire, que também é usado como referência bibliográfica. Ambos, pai e filha, acreditam na educação para liberdade e emancipação que tem na práxis o elemento fundante da ação pedagógica.
Suas propostas estão distantes de aceitação à educação bancária e reprodutivista e conformista do sistema liberal como pretende a Seed, do tapa-olho pedagógico que se propõe como encaminhamento após as observações de utilização da plataforma Quizizz. Em uma outra conjuntura, de construção de aprendizagens para a liberdade e emancipação e de autonomia pedagógica, a observação poderia ser um instrumento efetivo de reflexão sobre as práticas pedagógicas, o que é impossível sob este governo.
3) Reelaboração do Plano de ação. Que bom, que pena, que tal? É desta forma que se pretende avaliar e replanejar o conjunto de ações do restante do semestre. Como ocorreu nos demais dias de planejamento, a ideia é adequar o planejamento às análises da Prova Paraná e o foco é no Saeb. Dentro desta lógica, está prevista uma avaliação dos fluxos escolares como frequência e abandono.
Estas ações, em conjunto, têm como objetivo adequar o projeto pedagógico da escola à obtenção do resultado do Ideb. Centrada na perspectiva das habilidades e competências presentes na BNCC, impostas pela reforma liberal escolar de 2017, o planejamento é um instrumento de avaliação e adequação à obtenção de resultados quantitativos. A plataformização, um conjunto de parafernálias pedagógicas que esvaziam a autonomia do professor(a), que emburrece e o faz executor de tarefas exigidas pela máquina e tem sido imposta pelo atual modelo educacional no Paraná às escolas públicas, é mais um instrumento para obtenção dos resultados já que estão dirigidas para esta finalidade. Resultado no dicionário da Seed e do governo Ratinho Jr. é não menos que obter o primeiro lugar no Ideb.
Infelizmente, o dia 2 de maio será mais um daqueles dias que perderemos a oportunidade de efetivamente fazermos uma discussão coletiva sobre a escola e os processos pedagógicos. Romper esse ciclo é fundamental, pois sob esta gestão está cada vez mais difícil. E à medida que o controle aumenta sobre a prática pedagógica e no condicionamento dos planejamentos, mais desalento se cria em professores(as), pedagogos(as), funcionários(as), direções e estudantes. Vivemos um momento de intensificação e precisamos resistir às práticas pedagógicas acompanhadas de processos coercitivos e que resultam em punições, quando não, no adoecimento dos sujeitos da escola.
É preciso um basta destas práticas!
Fonte: APP-Sindicato