Maiores aumentos foram registrados nas regiões Norte e Nordeste, entre trabalhadores de 40 a 59 anos e com ensino médio completo
Levantamento divulgado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base em dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), aponta crescimento de 3,1% na renda habitual média decorrente do trabalho em 2023.
Segundo o mapeamento, em dezembro de 2023, o rendimento habitual médio real do trabalhador brasileiro atingiu R$ 3.100. O montante é 0,7% maior que o observado no mês anterior (R$ 3.078) e 3,9% superior ao valor de dezembro de 2022 (R$ 2.985).
De acordo com classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ganho habitual consiste na remuneração recebida por empregados, empregadores e trabalhadores por conta própria, mensalmente, sem acréscimos extraordinários ou descontos esporádicos, ou seja, sem parcelas que não tenham caráter contínuo.
Outra constatação do estudo é que, no segundo trimestre de 2023, a renda média ficou acima da observada no mesmo trimestre de 2019. Considerando o período, é primeira vez desde a pandemia de Covid-19 que a quantia é superior (0,6%).
Renda de trabalhadores mais escolarizados e mulheres tem maior salto
Os maiores aumentos na renda em comparação ao quarto trimestre de 2022 foram registrados nas regiões Norte (4,1%) e Nordeste (4%), entre os trabalhadores de 40 a 59 anos (4,1%), com ensino médio completo (3,2%). Somente entre trabalhadores com ensino fundamental completo, o ganho apresentou queda.
Diferentemente dos anos anteriores, os rendimentos habituais recebidos pelas mulheres contabilizaram crescimento interanual maior que os dos homens ao longo de todos os trimestres de 2023. No quarto trimestre, o aumento entre as mulheres foi de 4,2% contra 2,5% de alta na renda média habitual dos homens.
Porém, informações do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, publicado nesta terça-feira (26) pelos Ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego, indicam que as trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os trabalhadores homens no Brasil.
O relatório foi consolidado a partir das informações preenchidas no eSocial, o sistema federal de coleta de informações trabalhistas, previdenciárias e tributárias. Ao todo, 49.587 empresas com 100 ou mais funcionários do Brasil preencheram as informações relativas a 2022.
Ainda, conforme demonstrado pelo Portal Verdade, desde novembro último, a desigualdade salarial entre homens e mulheres tem crescido no país (relembre aqui).
Contratações no setor privado e sem carteira assinada lideram
Ainda com base na pesquisa, empregados do setor privado sem carteira foram aqueles que apresentaram um maior aumento interanual da renda no quarto trimestre de 2023 (6,9%).
Já trabalhadores do segmento público e os empregados com carteira assinada registraram altas de 3,9% e 2,1%, respectivamente.
A advogada Bianca Peres chama atenção para a constatação de que maiores pagamentos sem vínculo formal podem ocultar prejuízos a médio e longo prazo.
“Algumas empresas ofertam vagas com salários mais altos, porém sem contratação efetiva. Não arcando com direitos trabalhistas que são responsabilidade dos contratantes, é possível garantir remuneração superior, porém este trabalhador fica sem estabilidade, acesso a férias, 13º salário, seguro-desemprego, entre outras garantias. Com o passar do tempo, esta diferença, que não costuma ser muito grande na maioria das vezes, deixa de ser atrativa, se consideramos que o trabalhador estará totalmente desprotegido”, adverte.
No recorte por setor, no quarto trimestre de 2023, houve diminuição da renda na área de transporte (-1,7%) e na construção (-3,8%) em relação ao mesmo período de 2022. Já os trabalhadores da indústria (5,7%), do comércio (5,9%) e da administração pública (4,6%) obtiveram as maiores altas no último trimestre do ano passado.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.