Aumento da pejotização no setor e dificuldades de gestão das empresas contribuem para esse número
Na primeira semana de janeiro, a FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), divulgou o número de jornalistas com contrato de trabalho formal atuando no Brasil. Entre 2006 a 2021, houve um aumento de 5.880 postos formais, contingente puxado pelas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, com um aumento de quase 50%.
A pesquisa, encomendada ao DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) também apontou que o Sul e Sudeste perderam postos. Em 2013, as duas regiões concentravam 70,8% dos empregos formais dos jornalistas. Em 2021, somavam 61,7%. A região Sul teve uma perda de 980 vagas.
De acordo com a presidente da FENAJ, Samira de Castro, o aumento de algumas regiões é resultado direto da diminuição dos ‘desertos digitais’. Os municípios que não possuem veículos de informação independente são enquadrados na categoria de ‘desertos digitais’. Houve uma redução de 8,6% no último ano devido ao aumento de veículos digitais, que chegam a 36% do total de veículos em atividade no país.
Apesar dos dados parecerem favoráveis à primeira vista, o avanço das mídias digitais, principalmente, das redes sociais, que vem tomando espaço do jornalismo profissional, mostra uma preocupante tendência: de 2013 até 2021, todas as funções perderam vagas, com exceção do editor de mídia, que aumentou em 61,1% no período.
Diminuição na formalidade no Sul
É preocupante o cenário da região Sul. A queda na formalidade do trabalho na localidade pode indicar um aumento da pejotização dos profissionais de jornalismo. Muitas empresas optam por contratar profissionais por meio de pessoa jurídica, ou PJ, mesmo que atribuam funções e obrigações devidas apenas a trabalhadores do regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Segundo o Atlas da Notícia são, o que reduz significativamente, as opções de trabalho para os profissionais da imprensa.
Ricardo Andretto, secretário geral do Sindijor, sindicato que representa os jornalistas no norte do Paraná, disse em entrevista para o Portal Verdade que a informalidade traz prejuízos não apenas ao profissionais, mas também as empresas que trabalham dessa forma: “A pejotização é prejudicial da pequena a grande empresa, só que as grandes empresas entendem isso melhor. Quando contratam dessa forma, as empresas estão contratando alguém que não tem vínculo com a empresa, e se não tem vínculo, o trabalho pode vir da mesma maneira. Amanhã o profissional pode não ir mais trabalhar”, observa.
Outro ponto que, segundo o secretário sindical, explica essa diminuição é a dificuldade e erros de gestão de empresas do setor da comunicação, que resulta em fechamento de redações ou demissões de jornalistas, sobrecarregando quem fica. “Se uma empresa possui 10 funcionários em uma redação e mandam cinco embora, os outros cinco precisam trabalhar mais para entregar, sem que o salário aumente”, pontua.
Esse acúmulo também prejudica a saúde dos jornalistas, que sentem a pressão e se desiludem com a profissão. “Muitos jornalistas precisam de apoio psicológico. Tivemos um caso não tão distante de um profissional que foi demitido enquanto fazia um tratamento de saúde mensal. A gente tenta dar um apoio, mas nem todo mundo consegue ajudar. Se ele conseguir provar que estava em tratamento a gente ajuda. Tudo isso afetou os jornalistas. Muitos jornalistas estão cansados, estão depressivos e estão abandonando a profissão, bons jornalistas aliás”, adverte.
*Matéria do estagiário Lucas Worobel sob supervisão.