Entre as principais queixas, caixas sofrem com remoção compulsória, desgratificação e imposição crescente de metas abusivas
A última quinta-feira (16), foi Dia Nacional de Luta das Funcionárias e Funcionárias da BB (Banco do Brasil). Em todo o país, os trabalhadores se mobilizaram para denunciar o descumprimento de acordos assumidos pela instituição durante a Campanha Salarial Nacional de 2024.
Uma das principais críticas apontadas pela categoria refere-se à situação enfrentada pelos caixas, profissionais responsáveis por atuar de maneira direta no atendimento ao público, realizando uma série de serviços como processamento de depósitos, saques, transferências de fundos, pagamentos de contas, auxílio com transações em caixas eletrônicos e outros terminais de autoatendimento, entre diversas outras funções.
Durante as mesas de negociação, o Banco do Brasil informou que, devido a processos de reestruturação, os caixas seriam realocados em nova função com manutenção de remuneração similar ou superior à gratificação recebida pelo exercício da atividade.
Porém, segundo relatos obtidos pelas entidades sindicais, os trabalhadores estão sendo comunicados que perderão suas funções a partir de 1º de fevereiro, gerando uma grande insegurança.
Laurito Porto Lira, secretario de Formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, chama a atenção para os processos de “desgratificação” e o “medo de remoção compulsória” que a categoria tem atravessado.
A desgratificação, ele explica, corresponde a perda da gratificação que, em média, significa cerca de 35% do salário.
“Como será diminuída a dotação [número de trabalhadores que a agência pode ter] cria-se um excesso, e isso implica que o quadro de trabalhadores precisa ficar adequado ao que pode ter. Então, alguém vai ter que pedir remoção para uma agência ou departamento que tenha vaga disponível. Isso fará que de uma hora para outra, colegas terão que procurar um outro local de trabalho e pelo interior pode significar mudança de cidade. Para os colegas caixas, principalmente, e outros com função comissionada que podem ter se tornado excesso também significa que terão redução de salário”, evidencia.
Em algumas agências, quando há mais de um caixa para uma única vaga, o gerente geral está sendo responsabilizado por decidir quem ficará no cargo.
Pesquisa do Emprego Bancário, elaborada pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), aponta que, em 2024, cerca de 4.171 postos de trabalho foram fechados no setor.
Banco público, lógica privada
Juntamente ao descumprimento do acordo, funcionários da instituição têm relato o aumento da cobranças pelo cumprimento de metas abusivas, levando ao adoecimento massivo da categoria.
Conforme informado pelo Portal Verdade, profissionais do setor bancário vivem uma crise de saúde mental que se aprofunda a cada ano. Estudos reforçam o alerta de que 80% dos bancários relatam algum tipo de problema de saúde mental e metade deles já está em acompanhamento psiquiátrico (relembre aqui).
Laurito avalia que a imposição crescente de metas arbitrárias no Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal demonstram uma descaracterização de suas finalidades enquanto entidades públicas. Ao privilegiar o lucro acima da saúde de seus funcionários, nota-se que as organizações têm empregado as mesmas lógicas de organização do trabalho dos bancos privados.
“O problema das cobranças abusivas de metas do Banco do Brasil assim como na Caixa estão associadas com estas instituições estarem ao longo dos últimos anos mudando sua atuação de banco público para serem bancos comerciais, ou seja, estão deixando de cumprir funções estratégicas para o desenvolvimento de políticas públicas e de atuar para o desenvolvimento do país e buscando apenas o lucro”, adverte.
Busca pelo Sindicato
Ainda, Laurito saliento que os trabalhadores que forem afetados pela reestruturação devem procurar o Sindicato. “Veremos como esse trabalhador esta sendo afetado, para que sejam tomadas as providências que podem ser negociadas junto ao Banco do Brasil ou judicializadas contra o Banco, para resguardar os direitos que estejam sendo prejudicados neste momento”, assinala.
Em Londrina, o Sindicato está localizado na Avenida Rio de Janeiro, nº 854, Centro. Os telefones para contato são: (43) 3372-8787 ou (43) 99838-0063.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.