Prédio é administrado pela Secretaria Estadual de Saúde
O prédio da SCAFAR (Seção de Assistência Farmacêutica), sob responsabilidade da 17ª Regional de Saúde, enfrenta riscos de desabamentos, além de problemas de infiltração.
O local armazena medicamentos de alto custo destinados ao tratamento de doenças raras, também realiza o controle e a distribuição de diversos insumos como vacinas para os 21 municípios que integram a 17ª Regional de Saúde.
“O valor de uso e de mercado dos medicamentos e os produtos que estão armazenados na SCAFAR são de altíssimo custo. Custos, podendo chegar na casa dos milhões por conta de alguns medicamentos que, às vezes, só se tem acesso via SUS [Sistema Único de Saúde] então é um setor estratégico importantíssimo para manutenção dos serviços de saúde na região”, alerta Gilson Luiz Pereira Filho, técnico de enfermagem e membro da diretoria estadual do SindSaúde-PR (Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público da Saúde e da Previdência do Estado do Paraná).
De acordo com a liderança, os problemas de infraestrutura se arrastam há pelo menos três anos. Mas relatos de trabalhadores alocados na SCAFAR sinalizam que o sucateamento vem de antes.
Conforme informado pelo Portal Verdade, em fevereiro de 2024, o teto chegou a ceder e parte do estoque de remédios e vacinas precisou ser transferido para a sede da Farmácia do Paraná. O espaço foi interditado e permanece fechado desde então (relembre aqui).
De lá para cá, a estrutura ficou ainda mais comprometida. Gilson compartilha que entrada do prédio há uma caixa d’água, de aproximadamente 20 metros de altura, que tem soltado partes do reboco, levando a necessidade de também isolar a área.
Ainda, um corredor externo, que dá acesso ao fundo do prédio, também precisou ser interditado devido a uma marquise que apresenta muitas infiltrações e pode desabar a qualquer momento.
Risco de vida
Gilson evidencia, que devido a urgência de isolar diferentes regiões do prédio, o espaço para manejo de materiais e medicamentos, também para a permanência dos trabalhadores está cada vez mais apertado e inadequado, com a exposição, inclusive, de fios, o que aumenta significativamente os riscos de incêndios e de curtos-circuitos.
“Por conta das interdições recorrentes, os postos de trabalho dos servidores e dos trabalhadores terceirizados, foram sendo adaptados no meio de alguns locais, com ligações elétricas espalhadas pelo chão”, observa.
Ainda, segundo ele, com o aumento de chuvas no fim do ano passado, os diversos problemas de infiltração que o prédio já apresentava, se agravaram ainda mais, chegando a afetar o quadro de energia, fixado próximo ao local onde os servidores permaneciam. Com isso, os funcionários precisaram ser retirados do local pelo perigo eminente.
“A situação vem se agravando a cada dia, e essa área próxima à caixa de energia, nesse momento está interditada, então, o espaço físico que já era insuficiente, está mais insuficiente ainda, os trabalhadores foram deslocados para uma outra área, pequena, apertada, sem ventilação, e a situação está insustentável”, adverte.
“Existe uma tubulação, que provavelmente tem ligação com a área externa do prédio e que essa tubulação, dependendo do fluxo de chuva, acaba canalizando a água para dentro dessa sala. Então, essa é a parte mais importante no momento e mais grave, devido ao contato direto da água com as partes elétricas e a energia no local onde os servidores trabalham”, ele acrescenta.
O espaço, localizado na avenida Tiradentes, foi cedido pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) à SESA (Secretaria Estadual de Saúde).
Trabalhadores da saúde sem saúde
Gilson pontua que, além dos riscos de acidente, os trabalhadores estão enfrentando condições extremamente insalubres. Alguns já relataram problemas emocionais como o aumento da insegurança e desmotivação para o desempenho de suas funções.
“Por conta dessa situação de risco e de responsabilidade também de ter que manter o trabalho funcionando, a distribuição de medicamentos e de insumos, mesmo nessas condições precárias, e sem nenhuma apresentação de proposta para que resolva os problemas”, afirma.
De acordo com ele, o engenheiro vinculado à 17ª Regional de Saúde, também a Defesa Civil, visitaram o local e orientaram a necessidade de mudanças e reformas urgentes. Foram feitos ajustes pontuais e paliativos, que não resolveram o problema.
“Nesse caso, por exemplo, da infiltração e da chuva, que está com infiltração sob a caixa de energia, foi feito alguns reparos, mas o problema continua, permanece chovendo lá dentro, e apresentando risco de choque e até de explosão”, ressalta.
Neste momento, a principal reivindicação dos trabalhadores é que o prédio seja totalmente interditado até que o espaço tenha condições efetivas de abrigar os trabalhadores e os insumos.
“Já tem algumas visitas técnicas que dão conta de que o ambiente está extremamente impróprio para o trabalho, para a armazenagem e para a permanência de trabalhadores. Por isso, o nosso intuito é que seja mesmo interditado o local até que se resolva, até que encontre um novo local, até que alguém se responsabilize pela mudança e apresente soluções definitivas sobre o assunto”, assinala.
Porém, de acordo com o sindicalista, um dos empecilhos tem sido o orçamento destinado ao aluguel, muito abaixo do mercado. “Estão procurando locais com valor próximo a R$ 15 mil, o que é inviável, não é suficiente para alocação, nem pela localidade que eles procuram e nem pelo tamanho do espaço físico para comportar todos os serviços e todos os trabalhadores”, avalia.
Os servidores também demonstram a preocupação com a desassistência à população paranaense, já que repentinamente os serviços podem ser paralisados devido à falta de infraestrutura.
“A falta de um ambiente adequado para esse armazenamento, com riscos de acidente e incêndios pode comprometer esses materiais, então, é importante que se encontre um lugar mais adequado, seguro para os trabalhadores e seguros para esses materiais também. São investimentos públicos de alto custo que estão em risco, comprometidos devido a essas condições estruturais e físicas”, reflete.
Sem resposta
Ainda, Gilson informa que em julho de 2024, foi entregue um ofício solicitando uma reunião com a SESA para debater a precariedade do espaço, mas até o momento, não houve resposta.
Agora, os trabalhadores preparam um novo ofício para o Ministério Público e outros órgãos de controle do estado que atuam na fiscalização de estabelecimentos de saúde. O pedido é uma avaliação técnica e a interdição do ambiente com urgência.
A paralisação dos servidores também não está descartada. “O consenso de que é preciso parar o trabalho naquele local para que se tenha o mínimo de condição e de segurança de trabalho para permanecer naquele espaço”, pontua.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde solicitando o posicionamento da pasta e aguarda retorno.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.